quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Estirpe


Os mendigos maiores não dizem mais, nem fazem nada.

Sabem que é inútil e exaustivo.

Deixam-se estar.

Deixam-se estar.

Deixam-se estar ao sol e à chuva, com o mesmo ar

de completa coragem,

longe do corpo que fica em qualquer lugar.


Entretêm-se a estender a vida pelo pensamento.

Se alguém falar, sua voz foge como um pássaro que cai.

E é de tal modo imprevista, desnecessária e surpreendente

que, para a ouvirem bem, talvez gemessem algum ai.


Oh! não gemiam, não...

Os mendigos maiores são todos estóicos.

Puseram sua miséria junto aos jardins do mundo felizmas

não querem que, do outro lado, tenham notícia da

estranha sorte

que anda por eles como um rio num país.


Os mendigos maiores vivem fora da vida:

fizeram-se excluídos.

Abriram sonos e silencios e espaços nus,

em redor de si.

Tem seu reino vazio, de altas estrelas que não cobiçam.

Seu olhar não olha mais, e sua boca não chama nem ri.


E seu corpo não sofre nem goza.

E sua mão não toma nem pede.

E seu coração é uma coisa que, se existiu, já esqueceu.


Ah! os mendigos são um povo que se vai convertendo

em pedra


Esse povo é que é o meu.

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